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8º Grito da Terra PE reforça urgência de políticas públicas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas no campo
Termina neste domingo (20/07) o decreto estadual que reconhecia a situação de emergência no Sertão de Pernambuco devido à seca. O documento tinha como objetivo orientar ações emergenciais para enfrentar os efeitos da estiagem sobre os trabalhadores e trabalhadoras do campo. No entanto, mesmo com o fim do decreto, os impactos das mudanças climáticas permanecem como uma ameaça real e cotidiana à agricultura familiar — e este é um dos principais pontos da pauta do 8º Grito da Terra Pernambuco, mobilização organizada pela Fetape e seus sindicatos (STRs), que acontece no próximo dia 29 de julho.
Com o tema “Agricultura familiar: cuida da terra e alimenta o mundo”, o ato busca fortalecer o diálogo com os órgãos públicos, especialmente com o Governo do Estado, reivindicando ações estruturantes para garantir a permanência e a dignidade das famílias no campo. Para a diretora de Política para o Meio Ambiente da Fetape, Ivanice Melo, as mudanças climáticas atingem diretamente os modos de vida e produção da agricultura familiar.

“É o papel da Fetape e da Contag reivindicar dos governos políticas públicas que levem soluções para todos os municípios”, afirma.
A realidade climática nas regiões
No Agreste Meridional, o cenário é de escassez. A agricultora familiar do Sítio Poço Doce, em São Bento do Una, Iraci Almeida, relata frustração com a atual situação climática:
“Eu esperava plantar mais, colher mais, mas até agora não conseguimos fazer nenhum plantio.”
Em contraste com a aridez do Agreste e do Sertão, a Zona da Mata enfrenta um excesso de chuvas.
“A produção está toda embebedada. O inverno está muito chuvoso e para quem trabalha com hortaliças, como é o meu caso, não está dando pra produzir por causa da grande quantidade de água”, relata o agricultor familiar da Comunidade de Marreco, em Lagoa de Itaenga, Luiz Damião.
No Semiárido, os efeitos das mudanças climáticas são ainda mais complexos. A chamada “seca verde” tem se tornado cada vez mais comum, como explica a diretora de Política Agrária da Fetape, Rosário França. “Choveu bastante recentemente no sertão, mas já não podemos plantar porque os próximos meses são secos, então as plantações não aguentam a quentura do clima”, afirma a agricultora familiar e dirigente sindical.
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Foto: José Orlando Rocha.
A estiagem impediu a formação completa das espigas, Sertão Central de Pernambuco.
Histórico de secas e luta por políticas públicas
Fotografia: Arquivo Vanete Almeida, Seca Prolongada de 1979-1983 (Serra Talhada)
O Sertão é, historicamente, a região mais afetada pelas secas em Pernambuco. Episódios como a Grande Seca de 1877-1878, que resultou em cerca de meio milhão de mortes, marcaram a história do Brasil. Mais recentemente, as secas de 1915 e 2012 também deixaram fortes impactos sobre a produção e a vida da população. A criação de políticas públicas como cisternas, açudes e programas de convivência com o semiárido ajudaram a mitigar parte dessa realidade, mas ainda são insuficientes diante do agravamento das crises climáticas.
A Fetape, em articulação com os sindicatos de trabalhadores e trabalhadoras rurais de todas as regiões do estado, segue construindo propostas e reivindicações baseadas na realidade dos agricultores e agricultoras. Esses dados vêm sendo apresentados a instituições como o IPA (Instituto Agronômico de Pernambuco) e a SDA (Secretaria de Desenvolvimento Agrário), na expectativa de respostas concretas.
Por políticas estruturantes para o campo
Diante dos desafios enfrentados pelos agricultores e agricultoras familiares de Pernambuco, é fundamental fortalecer a luta pela implementação de políticas públicas no campo. Nesse contexto, a Fetape, em parceria com seus 175 sindicatos filiados e organizações aliadas, realiza no próximo dia 29 o 8º Grito da Terra Pernambuco. A mobilização tem como objetivo cobrar do governo de Raquel Lyra medidas concretas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas e avançar em pautas como: transição energética e agroecologia; fomento, assistência técnica e organização da produção; acesso à terra e regularização fundiária; e políticas sociais voltadas para o campo.
Foto de capa: José Orlando Rocha, Roça em Jabitacá, Distrito de Iguaracy, Sertão de Pernambuco, distante cerca de 365 km da capital pernambucana.